Palavras de amor, palavras de afeto, palavras de alegria, palavras de amizade, palavras de carinho. São tantas palavras... Palavras, palavras...


João Grilo Reencarnou


Estou mandando para vocês, porque para postar fica muito longo
 


João Grilo depois de morto
Não conseguiu um lugar,
O céu não lhe aceitou
O inferno não quis ficar,
Não tendo encontrado espaço
Ficou no mundo a vagar.

Chegou na casa do pai
Ele não lhe recebeu,
O pai tomou foi um susto
Quando João apareceu,
Botou os filhos pra dentro
Dizendo: - João já morreu.

João ficou contrariado
Com a falta de atenção,
Saiu pelo mundo afora
Com ódio no coração,
Até que um dia chegou
No Estado do Maranhão.

No Maranhão ele foi
Pra cidade de Codó,
Procurou um pai de santo
Pra fazer um catimbó,
Quando invocaram o espírito
Quem baixou foi sua avó.

A velha chegou zangada
Disse: - Essa praga é João,
Perdi a minha viagem
Vindo pra essa seção,
Esse infeliz é tão ruim
Que atentou até o cão.

João fugiu lá da seção
Em disparada carreira,
Foi bater lá em Caxias
Onde tava havendo feira,
Por conta do aperreio
Chegou lá com caganeira.

Sujou o box da carne,
A barraca de meisinha
O calçado do fiscal
Que era um tênis rainha,
Depois foi se aliviar
Num caixote de farinha.

Depois de tanta sujeira
João resolveu se banhar,
Foi pra fonte luminosa
Começou a se lavar,
Só notou que tava nu
Quando ouviu alguém gritar:

- Sai da fonte cristalina
Seu menino desgraçado,
Essa fonte é milagrosa
E tu tá todo cagado,
Tu já tá bem crescidinho
Pra tomar banho pelado.

O garoto quis correr
Mas já estava agarrado,
Veio um major da polícia
No lugar do delegado,
Quando recebeu a queixa
Disse: - Tá preso tarado!

Foi chegando o promotor
Disse: - calma, seu major!
Precisamos ter cuidado
Que o garoto é de  menor,
O que ele fez é errado
Mas a prisão é pior.

O vigário da cidade
Disse: - Eu fico com o menino
Levo ele  pra igreja
Pra ser tocador de sino,
Chegando lá, João furtou
O cofre de Santo Aquino.

O vigário levou João
Num posto de gasolina,
Colocou num caminhão
E mandou pra Teresina,
João escondeu-se na lona
E foi até Catarina.

De Catarina seguiu
Pra terra de São Raimundo,
Impressionou o povo
Com um carisma profundo,
Dizendo que Várzea Alegre
Era o coração do mundo.

Lá andou com Cláudio Sousa
E o boneco Joãozinho,
Fez um show no calçadão
Com Toka e Souza Sobrinho,
Rimou com Sávio Pinheiro,
Israel e Raimundinho.

Da terra de São Raimundo
Arribou pro Cariri,
Deram notícias de João
Com uma carga de piquí,
Quando apareceu o dono
Ele correu pra Jati.

De Jati pegou o beco
Foi até Jaguaruana,
Começou beber cachaça
Terminou entrando em cana,
Corrompeu o carcereiro
Fugiu na mesma semana.

 Na saída da cidade
João encontrou um soldado,
Disse: - Meu praça, eu estou
Bastante preocupado,
Tou indo atrás de um doutor
Pra mulher do delegado.

Nessa fuga ele alcançou
Uma tropa de cigano,
Se meteu no meio deles
Dizendo que era baiano,
Quando chegou no Icó
João Grilo mudou de plano.

No Icó, João inventou
Um brinquedo proibido,
Com vara, linha e anzol
Ficou no mato escondido,
Quando passava mulher
Ele pescava o vestido.

Quando uma desconfiou
Disse: - menino do cão!
Tu vai preto pro inferno
Sem direito de perdão.
Satanás apareceu
E disse: - O inferno, não!

Quando ele teve por lá
Fez muita esculhambação,
Queimou a casa de jogo
E um abrigo de ladrão,
Depois furou as caldeiras
Da casa de tentação.

João Grilo disse: - Xará!
Você tá ultrapassado,
Seu inferno tá falido
Não tem cão qualificado,
Me  entregue  aquela chibata
Que eu lhe mostro o resultado.

Não me chame de xará
Que meu nome não é João,
Hoje vamos resolver
Aquela velha questão,
Vamos ver quem é melhor
Na briga de cão, com cão.

Pois corra dentro, negrão!
Que eu topo o tirinete,
Você sabe que João Grilo
Sempre foi bom no cacete,
Não esqueça que eu estou
Com o meu velho porrete.

Satanás pegou o beco
Deixando só a fumaça,
João disse: - Eita diabo frouxo
Só tem mesmo é arruaça,
Quando eu falei no porrete
O bicho fugiu da praça.

De um cego tocador
João inventou de ser guia,
Era o cego com a sanfona
E João Grilo com a bacia,
Trocou moedas por pregos
E ficou com a mincharia.

O cego ficou tocando
E João bebendo cachaça,
Quando resolveu sair
Tinha um soldado na praça,
João disse: - Meu capitão!
Eu fui vítima da desgraça.

Aquele cabra safado
Roubou todo o meu dinheiro,
Tá se passando por cego
Mas é muito é desordeiro,
Tenha cuidado com ele
Que o bicho é traiçoeiro.

Na mesma hora fugiu
Numa carrada de sal,
Quando chegou na cancela
Resolveu fazer o mal,
Disse que a mercadoria
Não tinha a nota fiscal.

Quando notaram o engano
João já estava em Messejana,
De lá foi pra Fortaleza
Numa carrada de cana,
Desceu na praça da Sé
Já pensando em outra trama.

Foi ajudar uma freira
Numa travessia a pé,
Dizendo que era devoto
De Maria e São José,
Deixou a religiosa
Na porta de um cabaré.

A história de João Grilo
Não digo que foi fiel,
Ele ficou conhecido
Pelas folhas de papel,
Mas foi grande personagem
Dos livretos de cordel.

Mundim do Vale