Vinte minutos é o tempo que levo da minha casa ao meu local de trabalho. Optei pela caminhada por algumas razões. Primeiro porque quebra-molas e sinal fazem-me levar mais tempo. Segundo, caminhar faz bem! Enquanto caminho, rezo, canto, rio e dou bom dia a todos que encontro pelo caminho. Sinto-me à vontade para conversar com meus botões, enquanto caminho. Vou passando, estou sempre passando. Se estou em casa há sempre um rádio a tocar. Uma música, uma melodia, uma poesia. Minha casa é uma festa, há poesia em tudo! Tenho filhos "cinetésico-musicais" e eu nem saberia dizer o meu grau de cinestesia ou musicalidade. Sou elétrica, eclética e muito musical. Adoro dança, mas não sei dançar. Entrei agora para um grupo de dança do ventre para liberar tanta energia! E a poesia. Gosto de ler e ver poesia em tudo. E enquanto caminho, falo para dentro. Sou introspectiva. Não posso sair por aí cantando ou falando sozinha. Emitindo meus barulhos logo pela manhã: Larala-la-ra-la-la ou iurutum-iurutum-tum-tum ou ainda iaregala-arega-la-la. Cruzes, parece coisa de maluco! Então, é isso mesmo que pensarão de mim. Por isso contenho-me. Fecho a boca e vou só no pensamento: hum-hum-am-am-nam-nam, até chegar na Escola. Isso mesmo, é lá que fico o dia inteiro cheia de livros ao meu redor. Causando inveja aos outros que gostariam de estar no meu lugar. Sou feliz e estou feliz, o que é melhor ainda. Faço do meu trabalho o meu lazer. Adoro! Amo estar aqui neste espaço simples e cheio de fantasia, mistério e poesia, muita poesia. Enquanto caminho vêm muitos pensamentos, provérbios, frases, salmos, poesia. A poesia de hoje é:
Palavras de amor, palavras de afeto, palavras de alegria, palavras de amizade, palavras de carinho. São tantas palavras... Palavras, palavras...
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Isto
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
(Fernando Pessoa)
Sinta, quem por aqui passar, o nosso carinho.
domingo, 26 de agosto de 2012
sábado, 25 de agosto de 2012
25 de agosto de 1917
25 de agosto de 1917, tempo
quente! Agosto é um mês de muito calor no Ceará. Mas a menina não escolheu.
Nasceu. Como terá sido sua infância? Tímida, sem muita opção ou tempo para
brincadeiras. Infância difícil. Adolescente normal. Casa-se muito jovem e se torna
mãe de onze filhos. Filhos normais e saudáveis. Criou os onze. Sem muito
carinho, porque não tinha tempo, com todo afeto, capaz de fazer cada um sentir
o quanto era importante a sua presença na hora árdua de febre ou de dor.
Cuidadosa, responsável e severa, quando precisava. Não tinha Biblioteca, mas
com uma cultura invejável e conhecimento de causa, suficiente para educar a
cada filho na sua fé e transmiti-los a sabedoria essencial à vida: O respeito
ao outro e o amor pelo trabalho. Não brincava porque não tinha tempo, mas
preparava nossos guisados quando inventávamos que éramos gente grande. Muita
fumaça, olhos vermelhos, mas o domingo era só alegria. Edificava barracas de
palha de carnaúba e não era arquiteta. Nossa vida era uma festa. Sem falar nas
festas que íamos. Era a fada madrinha das cozinhas dos casamentos. Ensinou-nos
o que sabia. Cantava canções de ninar e fazia acalmar os corações aflitos.
Contava histórias de príncipes encantados e nos encantava. Era a nossa
Sherazade. Não para salvar sua vida e conquistar o Sultão, mas para acalmar as
nossas mentes ansiosas por mistérios e princesas. Éramos as suas princesas de
um castelo real. Quando a família tinha um pai e uma mãe, muito respeito e sinceridade.
Com os dois aprendemos para a vida. Como eu gostaria de ter palavras para
fazê-la entender a sua importância em nossas vidas.
Hoje é a nossa criança, aos
noventa e cinco anos. Não fala. Não anda. Nela tocamos e a fazemos sentir-se em
nossos braços. É o nosso retorno para ela que um dia nos embalou e nos cobriu nas
noites frias ou nos dias febris. A ela, essa rainha sem coroa, mas rainha, todo
nosso amor enquanto é possível. Parabéns, Rainha Edvirgens, Mãe querida!
domingo, 19 de agosto de 2012
Eu e meus botões
Todos
os dias eu brinco com a vida, dizendo para ela que pretendo retardar a
Alzheimer. E não estou brincando. A minha mãe, hoje com noventa e cinco anos,
viveu bem por quase noventa, até que um dia lá vem ela, a senhora Alzheimer,
com toda sua imponência e ataca sem piedade.
Há dias
venho pensando nela. Mas não vou respeitá-la. Tudo que puder, farei para
contrariá-la. Não permitirei que tome conta de mim. Soe muito curiosa com
relação a tudo que se refere à D. Alzheimer. Exercícios bem simples são
indicados para retardar a sua visita, já que não há prevenção.
Li hoje
no jornal uma matéria sobre o assunto. O jornal diz que segundo a Associação
Internacional da Doença de Alzheimer (ADI) 35,6 milhões de pessoas convivem com
a enfermidade (dados de 2010). Em 2030 chegue a 65,7 milhões e em 2050, a 115,4
milhões. É incurável e apavorante. Porém pesquisadores do mundo todo estão
empenhados em ao menos facilitar o diagnóstico e apontar seus riscos.
Há algumas dicas que nos ajudam a
mantê-la um pouco distante e melhorar a nossa memória. São elas: Prestar mais
atenção ao que nos é dito; Cuidar bem da nossa alimentação, comendo várias
pequenas refeições ao dia para evitar baixar níveis de glicose no sangue; Dormir
bem, em média sete ou oito horas por noite; Sonhar... “Sonhar é outra parte do
processo de alívio do estresse, que limpa a mente e permite um aprendizado mais
rápido.”; Organizar o que for importante a seu redor; Repetir a mesma tarefa ou
frase. “Aquele bom e velho hábito de repetir em voz alta continua sendo um dos
melhores métodos de memorização.”; O mais importante é continuar aprendendo
para exercitar a memória e por fim ter um hobby e ler também ajudam a não encontrá-la
logo ali na esquina da vida. Além dessas dicas valem aquelas já bem conhecidas:
mudar o trajeto; comer, escrever, desenhar com mão contrária à de costume. Sabe
aquela brincadeira de criança que os adultos brigavam com a gente e diziam que
estávamos vendendo nossa mãe para o diabo? Pois é, andar de costas é um ótimo
exercício. Veja bem, o que vale é quebrar a rotina, o normal, o habitual e
fazer diferente, o anormal. Não é legal a gente saber disso e deixar D.
Alzheimer a nos esperar lá longe... Bem longe?!
Edvirgens, minha mãe e de mais dez filhos, fará 95 anos no dia 25 de agosto.
Artemísia
Edvirgens, minha mãe e de mais dez filhos, fará 95 anos no dia 25 de agosto.
Artemísia
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Soldadinho Invisível
Às vezes eu acho que tenho um
bichinho que eu não sei o que é. Não consigo identificar. Só sei que quando ele
me aparece só me falta deixar louca. Sei também que ele fica bem escondidinho
para não ser visto e somente eu tenho esse poder, não de vê-lo, mas de senti-lo
no meu submundo imaginário ou no meu subconsciente, raras são às vezes em que
vem ao meu consciente e é aí que consigo vê-lo. Ele fala comigo de uma forma
estranha, mas muito especial. Hoje resolvi ouvi-lo. Perceber o que ele queria
de mim. E comecei a botar no papel o que ele quer. Sim, basta que eu empreste a
minha mão, meu tempo e meu coração e ele se deleita se esparrama, se derrama e
não consigo controlar. E é bom demais. É uma viagem fantástica, mas não posso
esquecer que deve ser controlado por mim e não eu por ele. Ele não pode tomar
as rédeas e me deixar naufragar em devaneios. Eu sou a dona de mim. E ele deve
saber que o seu poder tem limites, mas a minha vontade é deixá-lo aqui para
sempre. Pois a sensação é maravilhosa.
Há dias que ele me persegue
querendo saber a minha identidade. Isso mesmo! A minha identidade...
Numa cidade grande perde-se a
identidade por ser a selva de pedras onde é cada um por si e salve-se quem
puder, mas no interior, na cidadezinha qualquer, perder a identidade é coisa de
louco. Basta que se tenha na família alguém importante, autoridade, um doutor
para que se deixe de existir como pessoa e seja apenas o parente do outro. Vira-se
o irmão do Dr. Fulano. A mãe do Dr. Sicrano. O Sobrinho do Dr. Beltrano. O
primo de etc.! E a identidade da pessoa vai pro beleléu, porque ela perde o seu
nome. Eu, aliás, nem posso me queixar tanto, pois já nasci sem a minha. Sei,
Todos nascem sem, mas eu cresci sem. Depois de adulta descubro que meu nome é
outro. E o nome é o nosso primeiro ponto de referência. Quando me mudei para
outra cidade tentei firmar-me, mas que nada, chegou um bando de cabecinhas de
vento que resolveram mais uma vez atropelar-me com um tal de “inha”. Nunca em
toda a minha vida que já vai mais de,
abafa o caso, fui chamada de “inha”. Não me incomodo, mas percebo que novamente
a minha identidade fica abalada. Foi por isso que ele veio atormentar o meu
juízo. Pronto! Agora quero ver se ele me deixa em paz.
Um novo dia, estou a caminho para o
meu trabalho, enquanto caminho o meu amiguinho invisível, que tenho certeza,
não é um só, mas bilhões, talvez, porque pela força com que ele me impulsiona
só pode ser uma legião que curiosos chamam de Soldadinhos, leigos de Tico e
Teco e cientistas de Neurônios. A mim não importam esses por menores. Damo-nos
bem e isso é tudo que conta. Enquanto caminho ele me acompanha, aumento o
passo, mais ele me agarra. Ainda não descobri qual é o momento em que não estou
com ele a me perturbar. É insistente, curioso e não larga a minha mão. Preciso
trabalhar, mas como fazê-lo adormecer pelo menos alguns segundos quando estou
acordada? Não há em mim um dispositivo para desligá-lo porque nem ele nem eu
queremos. Somos um só, não há como separar. Ele é a minha vida e eu a dele.
Preciso amá-lo mais que a mim mesma para sobreviver. Dependo dele ao mesmo
tempo em que eu sou ele.
A conversa está ficando
embolada? É culpa dele que agora se apossou de minha mão e não quer que eu pare
de escrever. É a sua maneira de chamar a minha atenção.
Artemísia
Assinar:
Postagens (Atom)