Às vezes eu acho que tenho um
bichinho que eu não sei o que é. Não consigo identificar. Só sei que quando ele
me aparece só me falta deixar louca. Sei também que ele fica bem escondidinho
para não ser visto e somente eu tenho esse poder, não de vê-lo, mas de senti-lo
no meu submundo imaginário ou no meu subconsciente, raras são às vezes em que
vem ao meu consciente e é aí que consigo vê-lo. Ele fala comigo de uma forma
estranha, mas muito especial. Hoje resolvi ouvi-lo. Perceber o que ele queria
de mim. E comecei a botar no papel o que ele quer. Sim, basta que eu empreste a
minha mão, meu tempo e meu coração e ele se deleita se esparrama, se derrama e
não consigo controlar. E é bom demais. É uma viagem fantástica, mas não posso
esquecer que deve ser controlado por mim e não eu por ele. Ele não pode tomar
as rédeas e me deixar naufragar em devaneios. Eu sou a dona de mim. E ele deve
saber que o seu poder tem limites, mas a minha vontade é deixá-lo aqui para
sempre. Pois a sensação é maravilhosa.
Há dias que ele me persegue
querendo saber a minha identidade. Isso mesmo! A minha identidade...
Numa cidade grande perde-se a
identidade por ser a selva de pedras onde é cada um por si e salve-se quem
puder, mas no interior, na cidadezinha qualquer, perder a identidade é coisa de
louco. Basta que se tenha na família alguém importante, autoridade, um doutor
para que se deixe de existir como pessoa e seja apenas o parente do outro. Vira-se
o irmão do Dr. Fulano. A mãe do Dr. Sicrano. O Sobrinho do Dr. Beltrano. O
primo de etc.! E a identidade da pessoa vai pro beleléu, porque ela perde o seu
nome. Eu, aliás, nem posso me queixar tanto, pois já nasci sem a minha. Sei,
Todos nascem sem, mas eu cresci sem. Depois de adulta descubro que meu nome é
outro. E o nome é o nosso primeiro ponto de referência. Quando me mudei para
outra cidade tentei firmar-me, mas que nada, chegou um bando de cabecinhas de
vento que resolveram mais uma vez atropelar-me com um tal de “inha”. Nunca em
toda a minha vida que já vai mais de,
abafa o caso, fui chamada de “inha”. Não me incomodo, mas percebo que novamente
a minha identidade fica abalada. Foi por isso que ele veio atormentar o meu
juízo. Pronto! Agora quero ver se ele me deixa em paz.
Um novo dia, estou a caminho para o
meu trabalho, enquanto caminho o meu amiguinho invisível, que tenho certeza,
não é um só, mas bilhões, talvez, porque pela força com que ele me impulsiona
só pode ser uma legião que curiosos chamam de Soldadinhos, leigos de Tico e
Teco e cientistas de Neurônios. A mim não importam esses por menores. Damo-nos
bem e isso é tudo que conta. Enquanto caminho ele me acompanha, aumento o
passo, mais ele me agarra. Ainda não descobri qual é o momento em que não estou
com ele a me perturbar. É insistente, curioso e não larga a minha mão. Preciso
trabalhar, mas como fazê-lo adormecer pelo menos alguns segundos quando estou
acordada? Não há em mim um dispositivo para desligá-lo porque nem ele nem eu
queremos. Somos um só, não há como separar. Ele é a minha vida e eu a dele.
Preciso amá-lo mais que a mim mesma para sobreviver. Dependo dele ao mesmo
tempo em que eu sou ele.
A conversa está ficando
embolada? É culpa dele que agora se apossou de minha mão e não quer que eu pare
de escrever. É a sua maneira de chamar a minha atenção.
Artemísia
Eh...
ResponderExcluirMaravilha ...inha, sem o To
Este devaneio vai para o trono sim!
Seus escritos são fabulosos. Pena que por ser pessoais, não se pode comentar com a mesma desenvoltura que se comentaria um tema público.
Mas vou arriscar. Este bichinho que está com você vive em você e lhe estimula é o seu Biorritmo que está em perfeita sintonia com seu eu. E olhe, realmente não desgruda. É você e você é ele.
Não se preocupe em falar o que sentir vontade...
ExcluirFaça de conta que é um grande texto ou pequeno, tanto faz.
Comente! Isso é o que importa.
Obrigada e vou agradecer sempre.
Vamos seguindo...
Um grande virtual e virtuoso abraço.