José e Acilene
Uma infeliz história de amor
A história que lhe conto
Sei não é novidade
Mas aqui eu a escrevo
Para mostrar a maldade
De um homem sem caráter
De tamanha crueldade
Acilene, moça simples
De baixa estatura
Muito simpática e feliz
Uma boa criatura
José, homem cruel
É engano e tortura
Na década de 70
Nasce um caso de amor
Tipo Romeu e Julieta
Tristão e Isolda, que dor
Mas esse ao contrário
Sem respeito, sem amor
Uma menina moça
Já mais moça que menina
Em casar tinha sonhado
Não sabia a triste sina
O destino reservara
Àquela doce menina
Sua paixão é tamanha
Não há homem igual
Aquele é felizardo
Vão se casar afinal
Ele é seu bem maior
Não lhe fará nenhum mal
Sonhando, sempre sonhando
Não enxerga a menina
Que o amor é a teia
Que envolve e arruína
Da veia suga o sangue
Um belo dia termina
José, homem pacato
Vivia com sua Maria
Descansava à noite
Se trabalhava de dia
Não era rico, de posses
Nem na miséria vivia
Ele casado com filhos
Ela solteira com fé
Mais que tudo na vida
Pensa no amado José
A menina engravida
Não vendo quem ele é
Ele nascido nas Bravas
Ela no Poço do Mato
Comarca de Cariús
Logo fizeram o trato
De casar e viver juntos
Serem felizes de fato
Acilene amando José
Ele ignora o que sente
O acordo entre eles
Aconteceu simplesmente
Ninguém sabe, ninguém viu
Foi entre os dois somente
Se casou, eu não sei onde
Mas eu ouvi tal boato
Fato que ninguém esconde
Lá pelo Poço do Mato
Se casa e se livra dela
Um ocorrido de fato
Viu em José, Acilene
Um amor tão desgraçado
Como a paixão é cega
Não vê amor arruinado
Não enxerga consequências
Será feliz a seu lado?
Seguiu caminho a fora
Arrastou pela estrada
Não dando chance nenhuma
Para ser argumentada
Nem se preocupar se doía
A pele já encarnada
Sofrendo foi humilhada
Sem direito de defesa
Amor virado em ódio
Faltando delicadeza
Corpo inteiro em trapos
Da vida tira beleza
Deus do céu que covardia
Não sabe o que ela sente
No ventre leva um ser
Outra criança inocente
Começando sua dor
O que vai a sua mente?
José já transtornado
Ignora o sofrimento
Elimina uma vida
Não há nele sentimento
Sua querida e amada
Torna-se o seu tormento
O amor vira tragédia
De sangue fica manchada
Ninguém sabe ao certo
Como ela é machucada
José mata Acilene
De faca, facão, enxada?
Mata e não tem remorso
Não tira só uma vida
Joga dentro do saco
Começando a corrida
Para esconder o corpo
Dando fim a sua lida
Joga no fundo do açude
Deus do céu que agonia
Fácil será de encontrar
O corpo que ali jazia
Desfazendo à noite
O enterro que fez de dia
Vindo a polícia atrás
Investigar trama terrível
Descobrir onde ela está
Até hoje impossível
Não gosto de pensar
Neste caso inesquecível
No verão o açude seca
Onde o corpo foi jogado?
Um lugar que seja certo
Até o pai é julgado
Nunca foi descoberto
E nunca será provado
Lá vai caminho acima
Ou vai caminho abaixo
Veredas de pedregulho
Escodem um riacho
Bem pequeno, tão raso
Pensa isso é o diacho
Não sabe onde deixar
Porque nisso não pensou
Somente em tirar a vida
Que a ele se dedicou
Não pensa nas consequências
Que Deus a ele reservou
Acilene, pobre jovem
Que ficou sem mausoléu
Para conversar com Deus
Levando consigo o véu
Da tormenta e da dor
Foi direto para o céu
Que aconteceu a José
Ninguém sabe ao certo
Desencadeou o mal
Eu não estava por perto
Depois dessa tragédia
Foi cadeia seu deserto
A família não tem paz
José foi pra prisão
Morreu seco na cadeia
Nas bandas do Maranhão
Pagou com o sofrimento
O homem sem coração
Sítio Bravas jamais viu
História tão escabrosa
Um homem desumano
Uma cobra venenosa
Que trata como megera
Uma mulher, uma rosa
Esse caso foi único
Abalou os moradores
Todos daquele lugar
Sofreram com os horrores
Diziam a coitadinha
Suportou tantas dores
Quem na vida caminha
Pensando estar seguro
Sem olhar para os lados
Se perde no seu futuro
Cai da escada, se ferra
Dá com a cara no muro
Há gente que ainda lembra
Outra já esquecera
Povo de memória curta
Nem conta ao que nascera
De 80 para cá
O quanto ela sofrera
Fazendo este cordel
Sendo fiel à história
Dando volta ao passado
Rebuscando a memória
Espero ter sido clara
Aqui não contei vitória
Porque em amor maldito
Não pode ter vencedor
Acilene sofreu só
Quem soube o seu pavor
Sem ninguém para socorrer
No seu lamento, na dor
Artemísia
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