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domingo, 8 de janeiro de 2012

AS ALPARGATAS


Alguns fins de semana, eu me encontrava como cozinheiro e assim eu fiquei sendo chamado por ele o cozinheiro. No mês de agosto de 1945, mês de festa do nosso padroeiro em um dia de sábado eu recebi dinheiro e autorização para vir à cidade e comprar um par de alpargatas (apragatas como chamávamos).
Vim a cavalo, meu cavalo muito tropeiro, comprei as alpargatas muito bonitas, feitas com pele de jacaré (eu que pensava assim, amarrei as mesmas nas correias da cela e retornei para casa. No meio do caminho entre a cidade e nossa casa, morava o nosso avô materno e era uma obrigação, tanto na ida como na volta, passarmos na casa de nosso avô. Assim o fiz, parei o cavalo, desci, amarrei o mesmo em pé de imburana e entrei para cumprimentar os avós e os tios. Tomando a bênção a todos, voltei para continuar a viagem, morto de feliz com as alpargatas. Encontrei meu tio Joaquim perto do cavalo e foi logo dizendo:
- Meu sobrinho, porque você só comprou uma alpargatas?
Eu respondi:
- A outra está do outro lado.
Tio Joaquim respondeu:
- Não meu filho, só há um alpargatas.
Eu aproximei do cavalo e verifiquei que só havia uma alpargata. Inicialmente pensei que era meu tio com brincadeira, porém logo percebi que havia perdido uma alpargata. Montei no cavalo, voltei até a cidade, perguntando a todos que encontrava se não haviam achado a alpargata e a resposta foi sempre a mesma: Não. Retornei para casa muito descontente. Em casa, meus pais tentaram me convencer que poderia comprar outras alpargatas, porém eu não me conformava. Passei o resto do dia triste, pois ao perder uma alpargata bonita como aquela não dava para me contentar.
À tardinha do mesmo sábado, sai de casa para dar água a meus animais, neste intervalo, chega Joaquim Batista e entre uma conversa e outra perguntou pelo cozinheiro e meu pai informou-lhe que tinha saído para dar águas a uns porcos, porém acrescentou que eu estava muito perturbado, pois havia ido a cidade comprar umas alpargatas e havia perdido uma no caminho. Joaquim Batista ouvindo esta afirmativa, dirigiu-se para sua carona e retirou uma alpargatas e disse para o nosso pai:
- Eu achei uma alpargatas, será que é esta a dele?
Nosso pai conferiu a outra e disse:
- É compadre.
Porém, minutos depois eu fui chegando e nosso irmão Elizeu gritou em voz alta:
- Pedro, Joaquim Batista achou tua alpargata!
Foi uma alegria grande quando vi que era verdade, minha alpargata tinha sido encontrada e no mesmo momento eu pensei comigo mesmo: "como é bom ser cozinheiro". Terminei meu curso médico, vim para Várzea Alegre e Joaquim Batista durante quinze anos que ainda viveu não pagou uma consulta médica para si, nem para sua esposa e seus filhos. Isto é que é gratidão e reconhecimento.

Doutor Pedro Sátiro

do seu livro "Minha vida Minha história"

*Ilustração do google

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